domingo, 18 de janeiro de 2009

Quando a crise somos nós.

Faz praticamente um ano que decidi abandonar o país e não me pronunciar politicamente sobre aquilo que em tempos apelidei de crescente mediocridade.

Os sintomas da galopante irresponsabilidade que observei na classe dirigente, associado a um descomando orçamental das famílias, com uma crescente substituição do essencial pelo supérfluo devidamente entranhada numa falta de gosto, inteligência e intelectualidade, só poderiam ter como consequência a condução do país social ao estado em que ele se encontra. Na minha terra encarnou-se o estereótipo da avestruz (enterrar a cabeça na areia) e começou-se a ouvir um pouco por todo o lado: “não é nada comigo!”.

Será que mesmo numa pequena cidade como a Marinha Grande os sinais da mediocridade não eram assim tão visíveis? Recorde-se:
1 – Um Revisor Oficial de Contas (ROC), entidade oficial a certificar a contabilidade das empresas, aparentemente forja um “divórcio técnico” afim de salvar os bens patrimoniais que poderiam ser arrestados pelo poder judicial a punir uma hipotética mal gestão dos seus negócios.
2 – Os patrões do vidro (entenda-se a diferença para empresários do vidro) acabadas todas as forma de injecção de capital do Fundo Social Europeu, substituíram a gestão familiar, corporativa e incapaz por uma refinada e engravatada gestão de criatividade financeira, anunciando-se insolvências de surpresa e outras técnicas de falência programada, com compra, venda e alteração de denominação social das empresas. Tudo isto devidamente encapotado por um “familiar” sindicato vidreiro que finge que não vê afim de proteger incompreensíveis afinidades politicas.
3 – A falência do modelo associativo com crises directivas em quase todas as associações, que constituíam o verdadeiro e basilar património cultural, desportivo e social da nossa terra. O teatro deixou de ter interesse, a música tornou-se inútil e o desporto progressivamente substituído pela “play station”. A associação e beneficiação colectiva deixaram de ter interesse perante o “reality show” que se tornou a ocupação cultural do comum dos portugueses.
4 – Novas profissões, novas oportunidades, o dirigismo politico. A exasperada forma como as velhas e novas gerações pretendem ocupar os lugares disponibilizados pelos cargos políticos chega ao circunspecto domínio do tragi-cómico. Na pequena cidade da Marinha Grande viu-se de tudo um pouco, uma presidência e vice-presidência septuagenária, não criticável pela idade mas pela ridícula atitude observável. Golpes palacianos, retiradas de confiança politica e um homem só com o seu cão em São Pedro de Moel.

As nossas vidas tornaram-se tão especulativas como a economia, já não interessa aquilo que se é, mas as aparências e expectativas que conseguimos gerar nos outros. A falência deste modelo social que se tornou forma de vida atinge 63 % da produção mundial (valor do PIB dos EUA, Europa e Japão), revelando de uma forma global o poder da economia especulativa, que Keynes já em 1936, teorizava no conceito de “rendas”.

Seremos nós próprios capazes de nos reformarmos em novas formas de vida? Num sentido colectivo capaz, recuperando em tempos de crise, aquilo que outrora cultivámos, em honra de homens como o Dr. Vareda… Organizem-se!

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