sábado, 24 de janeiro de 2009
De vários artigos escritos sobre Angola, sabendo dos laços que ligam esta bonita capital de Província ao meu caro amigo e director do JMG, só poderia começar por Benguela, a cidade construída no tempo colonial com régua e esquadro, obtendo-se aquela que em tempos era considerada a verdadeira jóia da coroa do império português.
Benguela sempre foi e será uma cidade fundamental no desenvolvimento de Angola, com uma localização privilegiada entre o Norte e Sul do país, e com um dos principais portos comerciais de Angola (porto do Lobito) assume hoje toda a pujança que o projecto de reconstrução nacional representa para a presidência de Angola, com construções de novas e modernas redes viárias, a construção de uma nova ponte na Catumbela, bem como toda a reestruturação industrial (refinaria, cimenteira, fábrica de cerveja, etc..).
Mas Benguela da nova era (pós-75), foi sempre o local onde se tomaram todas as decisões. Em 1975 aquando da invasão Sul-africana em conjunto com os mercenários portugueses do ELP e forças da UNITA/FNLA, a sua perda para o MPLA/FAPLA representaria a divisão do país entre norte e sul, configurando a grande aspiração de Jonas Savimbi, a divisão do país entre República Popular de Angola a norte, presidida por Agostinho Neto e República Federal de Angola, presidida a sul por Jonas Savimbi. Com ajuda das forças aramadas Cubanas e dos famosos órgãos de Stalin (canhão de 40 bocas que desequilibrou a guerra), Benguela e parte do sul foram tomados por forças da FAPLA, empurrando as forças da UNITA e Sul-africanos para o Cunene e Cuando-Cubango (extremo sul e interior de Angola), ficando toda a logística de guerra dependente de abastecimento terrestre via Namíbia, ao invés do desejado porto do Lobito.
Em 1992-1993, Benguela voltou a ser o local de todas as decisões, com a não-aceitação dos resultados eleitorais das eleições legislativas e primeira volta das presidenciais por parte da UNITA, Jonas Savimbi lançou fortes ofensivas militares em todo o sul do país, em especial onde obteve resultados eleitorais favoráveis para o seu partido, pensando que isso representaria um apoio incondicional do povo. Em Benguela - Lobito o resultado eleitoral foi favorável à UNITA e Jonas Savimbi, contudo a resposta dada pelo povo angolano nessa sublevação da UNITA foi contra o esperado por Jonas Savimbi, com as Forças Armadas fragilizadas, só uma resposta determinada do povo que acima de tudo estava contra a guerra, permitiu uma vez mais que Lobito e Benguela não ficassem em mão da UNITA por mais do que umas escassas horas, representando a grande derrota de Jonas Savimbi e o processo final que conduziu ao seu progressivo isolamento militar e político.
Benguela é também a terra natal de um dos melhores escritores angolanos “Pepetela”, pseudónimo de Artur Pestana, e na minha opinião um escritor de leitura obrigatória para quem quer conhecer a Angola pós-colonial nos seus diferentes espectros e vicissitudes. De Pepetela e a para ti em especial, meu caro António José Ferreira, recomendo a leitura do livro “Geração da Utopia” (editorial Dom Quixote), trata-se do retrato mais fiel (apesar de romanceado) da luta pela independência, a desilusão política que foi o poder popular do partido único, e todo o anacronismo das transformações sociais que vão transformando Angola. Uma parte da narrativa deste romance tem como pano de fundo Benguela e a paradisíaca paisagem da praia da Caotinha, que não resisto à tentação de te enviar uma foto anexa.
Em Benguela podemos compreender as diferentes fases que ocorreram em Angola: -o desenho, ordem e arquitectura portuguesa, se bem que sustentada pela questionada e contestada máquina colonial; - a independência, invasão sul-africana e o modo de vida do partido único e respectivo poder popular; - a nova guerra civil de 1992-93 e por fim a emergência das novas gerações do petróleo e o novo riquismos angolano.
Angola, país imenso!
No sul podemos verificar o imenso país que é Angola, não pelas riquezas bárbaras que algumas mentes neo-colonizadoras tentam imaginar e alvitrar, mas pela diversidade cultural e ocupação do território que aqui se verifica.
A partir de uma cidade sobrepovoada como é o Lubango, constatei a enorme e estimulante realidade daquilo que verdadeiramente nos envolve. Tendo que trabalhar não só na cidade principal da província da Huíla, mas também nos municípios periféricos, verifiquei que ao contrário do que acontece noutros países, inclusive Portugal, o interior não está desertificado e mais, encontra-se povoado com diferentes etnias, dialectos, tradições e costumes, constituindo o verdadeiro património de Angola: As pessoas!
Basta sair do raio urbano da cidade 20 km para verificarmos avassaladoramente como é ocupado a maioria do território e quanto é diferente da maioria da população, que se refugiou da guerra numa cultura suburbana e disforme com o seu exponencial máximo na problemática Luanda.
Viver e constatar o choque do fim da guerra e o imenso desenvolvimento que isso gerou na vida destas primitivas culturas, com uma tribal forma de vida, representa uma experiência única.
domingo, 18 de janeiro de 2009
Quando a crise somos nós.
Faz praticamente um ano que decidi abandonar o país e não me pronunciar politicamente sobre aquilo que em tempos apelidei de crescente mediocridade.
Os sintomas da galopante irresponsabilidade que observei na classe dirigente, associado a um descomando orçamental das famílias, com uma crescente substituição do essencial pelo supérfluo devidamente entranhada numa falta de gosto, inteligência e intelectualidade, só poderiam ter como consequência a condução do país social ao estado em que ele se encontra. Na minha terra encarnou-se o estereótipo da avestruz (enterrar a cabeça na areia) e começou-se a ouvir um pouco por todo o lado: “não é nada comigo!”.
Será que mesmo numa pequena cidade como a Marinha Grande os sinais da mediocridade não eram assim tão visíveis? Recorde-se:
1 – Um Revisor Oficial de Contas (ROC), entidade oficial a certificar a contabilidade das empresas, aparentemente forja um “divórcio técnico” afim de salvar os bens patrimoniais que poderiam ser arrestados pelo poder judicial a punir uma hipotética mal gestão dos seus negócios.
2 – Os patrões do vidro (entenda-se a diferença para empresários do vidro) acabadas todas as forma de injecção de capital do Fundo Social Europeu, substituíram a gestão familiar, corporativa e incapaz por uma refinada e engravatada gestão de criatividade financeira, anunciando-se insolvências de surpresa e outras técnicas de falência programada, com compra, venda e alteração de denominação social das empresas. Tudo isto devidamente encapotado por um “familiar” sindicato vidreiro que finge que não vê afim de proteger incompreensíveis afinidades politicas.
3 – A falência do modelo associativo com crises directivas em quase todas as associações, que constituíam o verdadeiro e basilar património cultural, desportivo e social da nossa terra. O teatro deixou de ter interesse, a música tornou-se inútil e o desporto progressivamente substituído pela “play station”. A associação e beneficiação colectiva deixaram de ter interesse perante o “reality show” que se tornou a ocupação cultural do comum dos portugueses.
4 – Novas profissões, novas oportunidades, o dirigismo politico. A exasperada forma como as velhas e novas gerações pretendem ocupar os lugares disponibilizados pelos cargos políticos chega ao circunspecto domínio do tragi-cómico. Na pequena cidade da Marinha Grande viu-se de tudo um pouco, uma presidência e vice-presidência septuagenária, não criticável pela idade mas pela ridícula atitude observável. Golpes palacianos, retiradas de confiança politica e um homem só com o seu cão em São Pedro de Moel.
As nossas vidas tornaram-se tão especulativas como a economia, já não interessa aquilo que se é, mas as aparências e expectativas que conseguimos gerar nos outros. A falência deste modelo social que se tornou forma de vida atinge 63 % da produção mundial (valor do PIB dos EUA, Europa e Japão), revelando de uma forma global o poder da economia especulativa, que Keynes já em 1936, teorizava no conceito de “rendas”.
Seremos nós próprios capazes de nos reformarmos em novas formas de vida? Num sentido colectivo capaz, recuperando em tempos de crise, aquilo que outrora cultivámos, em honra de homens como o Dr. Vareda… Organizem-se!
Os sintomas da galopante irresponsabilidade que observei na classe dirigente, associado a um descomando orçamental das famílias, com uma crescente substituição do essencial pelo supérfluo devidamente entranhada numa falta de gosto, inteligência e intelectualidade, só poderiam ter como consequência a condução do país social ao estado em que ele se encontra. Na minha terra encarnou-se o estereótipo da avestruz (enterrar a cabeça na areia) e começou-se a ouvir um pouco por todo o lado: “não é nada comigo!”.
Será que mesmo numa pequena cidade como a Marinha Grande os sinais da mediocridade não eram assim tão visíveis? Recorde-se:
1 – Um Revisor Oficial de Contas (ROC), entidade oficial a certificar a contabilidade das empresas, aparentemente forja um “divórcio técnico” afim de salvar os bens patrimoniais que poderiam ser arrestados pelo poder judicial a punir uma hipotética mal gestão dos seus negócios.
2 – Os patrões do vidro (entenda-se a diferença para empresários do vidro) acabadas todas as forma de injecção de capital do Fundo Social Europeu, substituíram a gestão familiar, corporativa e incapaz por uma refinada e engravatada gestão de criatividade financeira, anunciando-se insolvências de surpresa e outras técnicas de falência programada, com compra, venda e alteração de denominação social das empresas. Tudo isto devidamente encapotado por um “familiar” sindicato vidreiro que finge que não vê afim de proteger incompreensíveis afinidades politicas.
3 – A falência do modelo associativo com crises directivas em quase todas as associações, que constituíam o verdadeiro e basilar património cultural, desportivo e social da nossa terra. O teatro deixou de ter interesse, a música tornou-se inútil e o desporto progressivamente substituído pela “play station”. A associação e beneficiação colectiva deixaram de ter interesse perante o “reality show” que se tornou a ocupação cultural do comum dos portugueses.
4 – Novas profissões, novas oportunidades, o dirigismo politico. A exasperada forma como as velhas e novas gerações pretendem ocupar os lugares disponibilizados pelos cargos políticos chega ao circunspecto domínio do tragi-cómico. Na pequena cidade da Marinha Grande viu-se de tudo um pouco, uma presidência e vice-presidência septuagenária, não criticável pela idade mas pela ridícula atitude observável. Golpes palacianos, retiradas de confiança politica e um homem só com o seu cão em São Pedro de Moel.
As nossas vidas tornaram-se tão especulativas como a economia, já não interessa aquilo que se é, mas as aparências e expectativas que conseguimos gerar nos outros. A falência deste modelo social que se tornou forma de vida atinge 63 % da produção mundial (valor do PIB dos EUA, Europa e Japão), revelando de uma forma global o poder da economia especulativa, que Keynes já em 1936, teorizava no conceito de “rendas”.
Seremos nós próprios capazes de nos reformarmos em novas formas de vida? Num sentido colectivo capaz, recuperando em tempos de crise, aquilo que outrora cultivámos, em honra de homens como o Dr. Vareda… Organizem-se!
O país de hoje o país de sempre
“Os romances, contos e crónicas do Último Eça refulgem hoje com uma actualidade inusitada. Sob a diferença da conjuntura, vibra hoje, estruturalmente, o mesmo Portugal que Eça conheceu nas décadas de 80 e 90 do século XIX:
-Instituições bloqueadas ou ineficazes (Justiça, Educação, Saúde), uma classe política genericamente medíocre;
- Refugo, em todos os partidos, das notáveis direcções refundadoras da democracia;
- Uma Assembleia da República de funcionários, em que sobeja o interesse do que o pensamento;
- Um empresariado especulativo, assente no betão e no comércio de curto prazo;
- Elites jogando com a sorte, visando a fama sem suor do estudo e do trabalho;
- Um povo bárbaro rastejando em Fátima ou ululando em estádios de futebol, de olhos grudados numa televisão vocacionada para mentes imbecis, frequentando os delirantemente maiores centros comerciais da Europa.
Sabemos hoje que o Regicídio e a República não foram solução, desembocando na mais longa ditadura europeia do sec. XX, fazendo-nos regredir a uma mentalidade eclesiástica fundada no analfabetismo, na miséria e na superstição: Fátima tornou-se o altar do mundo e Portugal o último país da Europa. Em 1986, tornámo-nos europeus com 50 anos de atraso, constatando todos os dias que o sonho pombalino que há 250 anos perseguíamos se vai esboroando no interior de uma Europa decadente e fragilizada, como maximamente teorizou Eduardo Lourenço. Consciencializamos, hoje mais do que nunca, que a Europa também não é solução, e que a solução, estando nós já na Europa, não pode agora senão estar em nós – um país pequeno, medíocre, que medíocre permanecerá até meados deste século, conduzido por elites cegas, parasitárias e autofágicas, totalmente desprovidas de consciência histórica, cujo único objectivo assenta na macaqueação de modelos estrangeiros, amiúde específicos de uma realidade histórica, as mesmas elites que forçaram Eça a registar na carta à rainha D. Amélia que, face a um país assim, só se pode desejar, não que se lute pela monarquia ou pela república, mas que se remedeie casa e pão para todos, majestoso ideal humanista do Último Eça, que os nossos governos, dirigidos por engenheiros e economistas, totalmente desprovidos de espírito histórico, moldados por uma mentalidade contabilista, criados à sombra do paternalismo do estado, movidos por um afã liberal num povo envelhecido e secularmente carecido de riqueza e protecção, continuam a achar desprezível, contribuído para tornar mais pobres as populações pobres.
A tais seres, espectros permanentes da política portuguesa desde o século XIX, responde hoje o povo como respondia no tempo de Eça, emigrando: 90 mil portugueses abandonam o país por ano (in Público, 15/08/2006). É, sem dúvida, a melhor resposta que se pode dar, emigrar, abandonar Portugal aos fâmulos fantasmáticos da economia a todo o custo. Como no tempo de Eça, substitui-se a pessoa pelo orçamento. Em Portugal, país habitado por dois milhões de pobres, menos Estado significa miséria, menos protecção, menos hospitais, menos escolas, menos transportes públicos e mais lucros individuais, bafejando não a classe média sólida – futura e exclusiva salvação de Portugal – mas uma minoritária classe financeira especulativa e um minoritário empresariado ostensivo, com evidente mentalidade de patrão. Ler hoje Eça – e antes de mais o último Eça, constitui um bálsamo para suportar a farsa, por vezes trágica, por vezes jocosa, em que Portugal se tornou desde a década de 80, quando a direcção política dos pais fundadores da democracia foi substituída por “jovens turcos” providos de Algarve, das Beiras e do Norte crescidos e enformados no interior dos partidos, possuindo destes a visão instrumental de acesso ao poder e de nobilitação individual e não de nobilitação das populações.
Concentremos a nossa esperança nas elites futuras e não esperemos nada de redentor das presentes senão aquilo a que um resto de pudor cristão, bom senso e a legislação europeia as obriguem a fazer. Da cabeça própria, esperemos apenas ignorância, sobranceria e estupidez. Entretanto, leiamos Eça, sublimando o facto de termos nascido em Portugal em época de profunda mediocridade geral, onde, à semelhança do final da Regeneração, de novo impera, avassaladoramente – como o Último Eça desmascarou, a democracia sem valor nem mérito, a omnipotência do dinheiro, o império de uma educação sem alma, inspirada em sociólogos de olhos numéricos e mente vazia, e o esboroamento dos antigos humanistas europeus da generosidade, da honestidade e da espiritualidade.” (in Miguel Real, O Último Eça, Quidnovi, Novembro de 2006)
Palavras para quê? O Prof. Miguel Real diz quase tudo, o resto deixo para vocês meus amigos...
-Instituições bloqueadas ou ineficazes (Justiça, Educação, Saúde), uma classe política genericamente medíocre;
- Refugo, em todos os partidos, das notáveis direcções refundadoras da democracia;
- Uma Assembleia da República de funcionários, em que sobeja o interesse do que o pensamento;
- Um empresariado especulativo, assente no betão e no comércio de curto prazo;
- Elites jogando com a sorte, visando a fama sem suor do estudo e do trabalho;
- Um povo bárbaro rastejando em Fátima ou ululando em estádios de futebol, de olhos grudados numa televisão vocacionada para mentes imbecis, frequentando os delirantemente maiores centros comerciais da Europa.
Sabemos hoje que o Regicídio e a República não foram solução, desembocando na mais longa ditadura europeia do sec. XX, fazendo-nos regredir a uma mentalidade eclesiástica fundada no analfabetismo, na miséria e na superstição: Fátima tornou-se o altar do mundo e Portugal o último país da Europa. Em 1986, tornámo-nos europeus com 50 anos de atraso, constatando todos os dias que o sonho pombalino que há 250 anos perseguíamos se vai esboroando no interior de uma Europa decadente e fragilizada, como maximamente teorizou Eduardo Lourenço. Consciencializamos, hoje mais do que nunca, que a Europa também não é solução, e que a solução, estando nós já na Europa, não pode agora senão estar em nós – um país pequeno, medíocre, que medíocre permanecerá até meados deste século, conduzido por elites cegas, parasitárias e autofágicas, totalmente desprovidas de consciência histórica, cujo único objectivo assenta na macaqueação de modelos estrangeiros, amiúde específicos de uma realidade histórica, as mesmas elites que forçaram Eça a registar na carta à rainha D. Amélia que, face a um país assim, só se pode desejar, não que se lute pela monarquia ou pela república, mas que se remedeie casa e pão para todos, majestoso ideal humanista do Último Eça, que os nossos governos, dirigidos por engenheiros e economistas, totalmente desprovidos de espírito histórico, moldados por uma mentalidade contabilista, criados à sombra do paternalismo do estado, movidos por um afã liberal num povo envelhecido e secularmente carecido de riqueza e protecção, continuam a achar desprezível, contribuído para tornar mais pobres as populações pobres.
A tais seres, espectros permanentes da política portuguesa desde o século XIX, responde hoje o povo como respondia no tempo de Eça, emigrando: 90 mil portugueses abandonam o país por ano (in Público, 15/08/2006). É, sem dúvida, a melhor resposta que se pode dar, emigrar, abandonar Portugal aos fâmulos fantasmáticos da economia a todo o custo. Como no tempo de Eça, substitui-se a pessoa pelo orçamento. Em Portugal, país habitado por dois milhões de pobres, menos Estado significa miséria, menos protecção, menos hospitais, menos escolas, menos transportes públicos e mais lucros individuais, bafejando não a classe média sólida – futura e exclusiva salvação de Portugal – mas uma minoritária classe financeira especulativa e um minoritário empresariado ostensivo, com evidente mentalidade de patrão. Ler hoje Eça – e antes de mais o último Eça, constitui um bálsamo para suportar a farsa, por vezes trágica, por vezes jocosa, em que Portugal se tornou desde a década de 80, quando a direcção política dos pais fundadores da democracia foi substituída por “jovens turcos” providos de Algarve, das Beiras e do Norte crescidos e enformados no interior dos partidos, possuindo destes a visão instrumental de acesso ao poder e de nobilitação individual e não de nobilitação das populações.
Concentremos a nossa esperança nas elites futuras e não esperemos nada de redentor das presentes senão aquilo a que um resto de pudor cristão, bom senso e a legislação europeia as obriguem a fazer. Da cabeça própria, esperemos apenas ignorância, sobranceria e estupidez. Entretanto, leiamos Eça, sublimando o facto de termos nascido em Portugal em época de profunda mediocridade geral, onde, à semelhança do final da Regeneração, de novo impera, avassaladoramente – como o Último Eça desmascarou, a democracia sem valor nem mérito, a omnipotência do dinheiro, o império de uma educação sem alma, inspirada em sociólogos de olhos numéricos e mente vazia, e o esboroamento dos antigos humanistas europeus da generosidade, da honestidade e da espiritualidade.” (in Miguel Real, O Último Eça, Quidnovi, Novembro de 2006)
Palavras para quê? O Prof. Miguel Real diz quase tudo, o resto deixo para vocês meus amigos...
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